terça-feira, 9 de março de 2010

Um poema de Dunya Mikhail

A guerra trabalha duro



A guerra trabalha duro
Quão magnificente é a guerra!
Quão ávida
e eficiente!
Cedo, pela manhã
ela desperta as sirenes
e despacha ambulâncias
a vários lugares,
estende macas aos feridos,
reune chuva
nos olhos das mães,
e desentoca coisas
de baixo das ruinas…

Algumas são exangues e cintililantes,
outras são pálidas e ainda
palpitantes…
Isso produz muitas perguntas
nas cabeças das crianças,
entretém os deuses
com tiros de fogos de artifício e mísseis
em direção ao céu,
semeia minas nos campos
e colhe buracos e pústulas,
estimula famílias a emigrar,
poisiciona-se ao lado dos sacerdotes
enquanto eles amaldiçoam o diabo
(pobre diabo, ele permanece
com a mão no ferro em brasa)…

A guerra continua seu trabalho, dia e noite.
Ela inspira tiranos
a oferecer longos discursos
premia com medalhas os
generais e com temas os poetas.
Ela contribui com a indústria
de membros artificiais,
provê comida às moscas,
acrescenta páginas aos
livros de história,
permite igualdade
entre assassinos e assassinados,
ensina amantes a escrever missivas,
acostuma jovens mulheres a esperar,
enche os jornais
com artigos e fotografias,
constrói casas novas
para os órfãos,
estimula os fabricantes de ataúdes,
dá aos coveiros
um tapinha nas costas
e desenha um sorriso no rosto do líder.

A guerra trabalha com incomparável diligência!
E, no entanto, ninguém lhe destina
uma só palavra de louvor.

(versão: C. de A.)


Via://cdeassis.wordpress.com


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