domingo, 14 de março de 2010

Carmen Miranda - O amor por duas terras!



Carmen – O amor por duas terras!

Os Correios buscam propagar, por meio da Filatelia, os valores culturais nacionais. Nesta emissão, presta homenagem a uma das grandes artistas do mundo, no centenário de seu nascimento: Carmen Miranda, talvez a mais importante personalidade artística brasileira de todos os tempos.

Carmen nasceu a 9 de fevereiro de 1909, na freguesia de Marco de Canaveses, em Portugal, mas veio para o Brasil com apenas dez meses de idade e, apesar de criada em meio à imensa colônia portuguesa do Rio de Janeiro dos anos de 1910 e 1920, revelou-se tão ou mais brasileira e carioca do que a maioria dos cariocas e brasileiros natos.

A musicalidade de sua fala nunca deixou de conter ecos da fala portuguesa. Brasileira de coração, mesmo depois de rica e famosa, nunca se esqueceu dos parentes distantes, comunicando-se sempre com eles, por meio de cartas, e ajudando-os.

Carmen tornou os brasileiros mais autênticos. Seu jeito de cantar, libertando o vocal brasileiro do sotaque lírico e da impostação operística predominante nas cantoras da época, veio diretamente das ruas e do seu próprio jeito de falar: cheio de gírias, de expressões modernas e de uma naturalidade que só ela tinha. Estilo nascido na cosmopolita Lapa, bairro carioca onde ela morou dos seis aos dezesseis anos, entre 1915 e 1925. Ouvindo-a no rádio e nos discos, durante toda a década de 1930, os brasileiros se reconheceram e se assumiram como o povo da versatilidade, da alegria e da espontaneidade.

Depois de gravar quase 300 sambas e marchinhas no Brasil, entre 1929 e 1939, e de contribuir decisivamente para a implantação da radiofonia, da indústria fonográfica e do cinema nacionais, Carmen foi seduzida pelos Estados Unidos, matriz do entretenimento mundial, e onde somente os melhores triunfavam. Carmen venceu assim que chegou, apesar de ter que limitar o seu repertório às marchinhas mais simples e animadas.

Carmen foi uma luso-brasileira até o fim. A poucos minutos do enfarte que lhe seria fatal, a 5 de agosto de 1955, em sua casa em Beverly Hills, cantou para os convidados dois fados portugueses. E foi ao som de seus eternos sambas e marchinhas que, uma semana depois, o povo carioca, aos milhares, conduziu-a à sua última morada, que ela sempre quis que fosse brasileira.

Ruy Castro
Escritor

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