sábado, 12 de abril de 2008

Crônica - Em busca do tempo perdido

Com mil perdões Marcel, eu também ando em busca do tempo perdido, embora saiba que jamais o encontrarei. Mesmo assim tenho vivido em dois mundos: interior, graças a uma série de reminiscências, e mundo exterior, graças a contemplação no espelho do meu rosto envelhecido .
....
Acordo, encho um copo com água, pego meu remédio para hipertensão, tomo um gole de água e não me lembro se tomei ou não a capsula do bendito remédio. Volto ao quarto para pegar meus óculos, no meio do corredor desisto, é que não lembro mesmo o que ia buscar no quarto.Volto ao quarto, acho que era a Revista Veja dessa Semana que eu ia pegar. Pego a revista e como não consigo ler sem óculos, lembro-me que eram os óculos o objetivo primeiro da minha incursão ao quarto.

Engraçado como minhas filhas (que têm menos da metade da minha idade) vivem me perguntando nomes e confirmação de fatos que ocorreram no passado, e eu quase sempre me lembro.

- Mãe como era o nome da menina rica daquela novela Parque de Diversão.
- O nome da menina é Maria Joaquina e o nome da Novela é Carrossel.
- Ai, como eu tenho saudade da minha infância, da Escola....
- A Escola, esta sim, era Escola Parque.
- Lembra mãe do primeiro livro que li...
- Claro que lembro: De onde vem os bêbes.
- Eu com cinco anos já queria saber de onde vinham os bêbes?
- Não, você queria saber o que era "camisinha", o que era AIDS.
Quanto mais antiga a informação, mais precisa a minha resposta. Porém, mais interessantes são as lembranças que acontecem espontaneamente. Pois é, as vezes uma frase, um som , um odor me fazem viajar na máquina do tempo. Não, não é para o futuro que viajo, e para o passado, para um tempo distante. O pior é que tem acontecido com mais freqüencia do que eu poderia desejar.
Hoje, não sei nem porquê , comecei timidamente a cantarolar uma velha canção, depois já confiante cantei todinha, não esqueci nem uma palavrinha!!!!.
Eis a canção, velha canção, certamente tem mais de cinqüenta anos:

Quero beijar-te as mãos
Minha querida
Senta junto de mim
Vem, por favor
És o maior enlevo
Da minha vida
És o reflorir do meu amor
Sinto nesta ansiedade
Que minha alma invade
Que me faz sofrer
A luz de um divinal querer
Eterna glória de viver
Se tu me quiseres tanto
Quanto eu que vivo
Para te adorar
Será um mundo de esplendor
O nosso amor
Amor, nosso amor.

Enquanto cantava aconteceu um flash back: me ví e a minha prima da mesma idade, numa sala com minha mãe e outros adultos; cantávamos, eu a minha prima, a canção acima. Os adultos se divertiam com a apresentação musical. Alguém comentou que era muito raro decorar palavras tão difíceis para crianças de quatro anos.
Ah, eu tinha quatro anos...
Meu medo é na próxima "viagem" ir para um tempo tão remoto, tão remoto, que me impeça de achar o caminho de volta....
Só o Dr Sig prá explicar...

Roselee Salles

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