domingo, 27 de abril de 2008

Crônica - Crianças defenestradas


Alguém poderia questionar o título desse artigo no plural, afinal foi uma só criança que foi arremessada pela janela. Pobre Isabella.

Não, não foi uma só criança que foi defenestrada. Milhares de crianças foram e estão sendo defenestradas socialmente.Como assim?

A "defenestração social" não consiste na agressão física propriamente dita de jogar pela janela, que é ostensiva, visível, que causa as vezes clamor social. E a violência silenciosa, perpetrada a luz do dia, aos olhos da sociedade e das autoridades . É a mais difícil de se combater.

E só parar no semáforo e olhar, que vamos perceber mais de uma dezena de crianças que embora est4ejam ali fisicamente foram defenestradas pelas janelas do desamparo, da paternidade irresponsável, foram defenestradas pelas suas familias - provavelmente, famílias de desempregados - pelas autoridades omissas, foram defenestradas pela sociedade, e por nós que diligentemente fechamos o vidro de nosso carro quando alguma delas de nós se aproxima.
Crianças de rua, cidadãos da exclusão social. Defenestrados, sem escola, sem saude,...Ouvi recentemente uma estatística estarrecedora: a cada dois dias morrem cinco crianças vítimas de violencia. Ou seja, morrem defenestradas pelas janelas do desamor da desagregação familiar.

Quantas crianças vitimas de pedofilia e da prostituição? Suas pureza, inocência, equilibrio psicológico defenestrados pelas janelas da imoralidade, da corrupção e, da impunidade.

E que dizer do trabalho infantil? Crescimento fisico, intelectual, arremessados, esmagados, futuro, perspectivas , sonhos, possibilidades, defenestrados pela ganancia do ganho fácil, do descaso público.

O drama das Isabellas - Nardoni e Taynara - mexe conosco, nos envergonha, nos comove. Milhares de pessoas se reuniram e a uma só voz pediram justiça em favor de Isabella Nardoni. Sim, queremos justiça para as Isabellas, João Helio, Marias, Teresas, Ariadnes, Julias, Pedros, Toninhos. Queremos justiça para todas as crianças que morreram vitimadas por acidentes de trânsito, balas "perdidas", pela sanha de uma madrasta ciumenta, ou de um pai impulsivo. Queremos justiça pelas crianças que foram dizimadas pela dengue. “Quem está morrendo hoje? Com o avanço da doença, são as crianças, porque elas nasceram e não são imunes. Isso vira um pânico social, as pessoas ficam angustiadas. Quem será o próximo, qual será a próxima criança que vai morrer?”, alertam os médicos.

Queremos justiça, principalmente, para aquelas que embora defenestradas, ainda lhes restam um sopro de vida. Talves, ainda dê tempo de salvar seus intelectos, suas potencialidades . Quem sabe a cura do cancer, da aids, a invenção de um novo combustivel não poluente, um novo meio de produção de alimentos, ou uma invenção de uma tecnologia tão avançada para o bem da humanidade, venha exatamente de uma dessas crianças "defenestradas".

Mas cada um de nós pode contribuir de algum modo quais sejam: denunciando, cobrando das autoridades providencias, não podemos é ficar inertes frente ao grave mal.

Para mudar, o primeiro passo é rever a forma de olhar. Na lição do eminente procurador de Justiça do Estado do Paraná Dr. OLIMPIO DE SÁ SOTTO MAIOR NETO “A questão da infância e juventude não deve ser encarada sob o prisma jurídico, mas do ponto de vista social”.

Citando o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho: "Quando uma sociedade deixa matar suas crianças é porque começou seu suicídio como sociedade", ou ainda esse belo poema: "Se não vejo, na criança, uma criança, é porque alguém a violentou antes e o que vejo é o que sobrou de tudo que lhe foi tirado. Mas esta que vejo na rua sem pai, sem mãe, sem cama, sem casa e comida, essa que vive a solidão das noites sem gente por perto, é um grito, é um espanto. Diante dela, o mundo deveria parar para começar um novo encontro, porque a criança é o princípio sem fim e o seu fim é o fim de todos nós".


Autor: Roselee Salles

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